THE DEGREE CONFLUENCE PROJECT
Tem como objetivo um projeto que é visitar as interseções de grau inteiro de cada latitude e longitude do globo e tirar fotografias de cada um desses pontos. As fotografias e os textos editados pelo grupo
DOCERRADO e muitos outros grupos de todo o mundo, serão armazenadas no site do projeto.
"O objetivo do projeto é visitar cada uma das interseções de grau inteiro de latitude e longitude no mundo e tirar fotos em cada local. As imagens, e as histórias sobre as visitas, serão postadas aqui. O projeto é uma amostragem organizada do mundo. Há uma confluência dentro de 49 milhas (79 km) de você, se você estiver na superfície da Terra. Nós descontamos as confluências nos oceanos e alguns perto dos pólos, mas ainda há 9.924 para ser encontrado."
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Overview: The goal of the project is to visit each of the latitude and longitude integer degree intersections in the world, and to take pictures at each location. The pictures, and stories about the visits, will then be posted here. The project is an organized sampling of the world. There is a confluence within 49 miles (79 km) of you if you're on the surface of Earth. We've discounted confluences in the oceans and some near the poles, but there are still 9,924 to be found.
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PARTES DO RELATO
=> PARTE 1: Planejamento, o começo, a tensão, o medo e o resgate
=> PARTE 2: Ate Rubiataba, Em Rubiataba, a rodovia, cãimbras e o olho de Orós
=> PARTE 3: Subidas, Down Hill, a nossa frente, bufalos, a confluência e o 15S 50W
=> PARTE 4: A ponte, travessia, a cadelinha e o fim
=> MAPA
PLANEJAMENTO
Desde 17/12/03 estávamos planejando chegar a esta confluência. Ela foi escolhida para ser nossa primeira por se localizar relativamente próxima de uma fazenda onde moram familiares de um dos membros do grupo, Flávio Kameleiro, o que facilitaria nossa logística, e ainda, por ser uma confluência ainda não alcançada. Nós seríamos então os primeiros.
Marcamos a saída para o dia 24/01/04. Mas alguns imprevistos particulares de alguns membros impediram nossa saída e então, resolvemos marcar para o dia 06/02/04. Nesse dia, às 19:22, Eu (Henrique), Flávio Kameleiro, Miguel e Franklin saímos em direçãoa Rubiataba/GO.
O COMEÇO
Já era noite quando chegamos em Cocalzinho/GO. Lá havia duas alternativas para seguirmos. Ou seguiríamos pela estrada que estava com alguns buracos (crateras é o termo mais correto) no asfalto ou seguiríamos pela estrada de chão. Mas essa estrada estava muito ruim, com muita lama por causa das forte chuvas, muitas valas, muita pedra e esburacada. Mesmo o asfalto estando com alguns buracos, não pensamos duas vezes.
"Estrada de chão!!!"
A aventura estava começando. Mas nem imaginávamos o apuro, a tensão e o medo que passaríamos mais a frente. A estrada era muito elameada, muitas valetas e muita subida. Um mata fechada. A Lua ajudava muito e começava a mostrar a sua cara. O local estava perfeito. Passávamos por pequenos riachos, o carro as vezes dava uma rabeada e reforçava mais ainda que estávamos corretos em escolher esse caminho. Conversávamos sobre uma vinda à Pirenópolis por esse caminho. As subidas intermináveis era que nos animava cada vez mais em tornar-mos essa idéia em realidade.
A TENSÃO
Era só alegria, com uma linda lua, muitas aves noturnas pela estrada quando de repente... "Punc!!!
Um baque seco e o carro fica completamente torto, meio que de lado. Ía sair do carro e o Franklin me aconselha a tomar cuidado. Havíamos caído numa vala no meio da estrada. Saio do carro e olho. A roda da frente estava completamente solta na vala. Pensamos um pouco e subiríamos no capô do lado esquerdo. Todo o volante seria virado para a esqueda para que a roda de tras não caísse também mas tinha uma árvore que iria impedir isso. Subimos, o Miguel direcionou o carro e ele saiu. Mas para nosso azar, o barranco cedeu e caiu a roda traseira. O carro estava de lado. Mas não desanimamos.
A lua estava linda, a animação também. Só não contávamos com ladrões. Começamos a pensar como faríamos. Quando acelerávamos a roda girava livremente. Não tinha tração alguma. Infelizmente não tínhamos uma pá para enchermos a vala com terra. Lembramos que no Paris-Dakar, a equipe brasileira que estáva no caminhão levou oito horas para sair dum atoleiro. Então, que seja oito horas para saírmos daqui também. Tinha muitas pedras pelo local. Começamos a pegar e colocar em baixo para ter onde a roda pegar.
Como estava com o ombro ainda dolorido por causa dum acidente, o Kameleiro pegou praticamente todas. Colocamos em baixo da roda, demos partida e ela arremessou as pedras para dentro do buraco. Não deu certo. Mais pedras então. Como o terreno estava muito molhado, elas afundavam facilmente quanda dávamos partida no carro. Tentamos levantar o carro com o macaco, colocamos mais pedras e nada. Então eu resolvi entrar dentro da vala, mas com muito medo do carro cair de vez. Arrumei as pedras e ficaram bem firmes. Nada, o carro patinava. O Miguel entrou debaixo do carro, colocou o macaco debaixo do eixo, levantou o carro, mais pedras e nada de dar certo. Esvaziamos os pneus para dar tração em cima das pedras. Nada. A Vala era muito profunda.
Já estávamos uma hora tentando tirar o carro. Alguns cachorros latiam a uma certa distância. Deve ter uma fazenda ali. Mas chegarmos lá essa hora da noite batendo palmas para acordá-los e pedir ajuda era arriscado. Poderíam nos confundir com assaltantes e sermos recebidos a bala. Ou acamparíamos ali mesmo e ao amanhecer iríamos até a fazenda ou iríamos pedalando até Pirenópolis. Até que resolvemos...
"
Vamos pedalando até Pirenópolis".
Enquanto nossos amigos íam em busca de socorro, Franklin e eu ficamos conversando até que ele para de falar e fica olhando para um ponto qualquer na escuridão.
"
Cara, acho que vi um vulto ali".
Meu coração dispara e olho na mesma direção e não vejo nada.
"Tem certeza que vc viu?"
"
Olha lá!".
Era verdade. Uma pessoa andava de forma sorrateira no meio do mato, pelas sombras. Meu coração disparou...
"
Ah, não Senhor (orei). Que não aconteça nada".
Ele percebeu que nós já tínhamos visto e ele veio em nossa direção. Fui logo na direção dele, o cumprimentando e olhando se estava armado ou com alguma faca.
-
E aí, tudo bem? Dando uma volta pelo mato? Perguntei.
- É... só andando. Vcs são de onde ?
" Não respondi e comecei a fazer perguntas pra ele. Estava assustado mas procurava não demonstrar ".
- Vc está sozinho?
- Estou.
- E por que está andando por aqui. Mora aqui perto?
- Não. Essa bike é uma mongoose, né?? Essa bike é muito boa.
"Gelei nessa hora".
- Pra onde vc está indo? Perguntei tentando tirar a atenção dele.
- Só andando mesmo
- Pois é. Nós estamos aqui com esse problema mas as pessoas que estão conosco já devem estar voltando.
- Foram logo ali e já devem estar aqui rapidinho. (falei tentando desestimular ele de qualquer tentiva de assalto, que não era só nós dois que estávamos ali. Tentei deixar ele na expectativa de que ele poderia ser surpreendido a qualquer momento).
O MEDO
Estava um pouco tenso. Eu sentia as veias do meu pescoço latejarem quando de repente eu percebo uma pessoa entre os arbustos. Meu coração dispara de forma violenta com o susto mas tento manter e aparentar estar calmo.
- Vc está sozinho? (pergunto de novo)
- Estou sim.
- E quem é aquele cara que está ali?
- Não tem ninguém ali não.
"Minha mão tremia e já achava que as coisas íam esquentar ali. Já imagina entrando num corpo a corpo com o cara".
- Tem sim. Olha lá. percebi que ele ficou visivelmente desapontado por termos visto o amigo dele.
- Ah, aquele cara ali ? Ele anda comigo de vez em quando.
- Pois é meu camarada. Nossos amigos devem estar chegando aí. Se não são eles que já vem aí. É que de onde estávamos, ouvíamos o barulho de caminhão passando. Ele ficou calado, nós também e parecia que tudo em volta tinha silenciado também. Era um silêncio sepulcral. Uns dois minutos depois, que me pareceu uma eternidade, ele se levantou sem dizer palavra, e foi embora. Agradeci muito a Deus em meu silêncio e ficamos o tempo todo de guarda.
O RESGATE
Uma hora depois, nós vimos uns faróis fortíssimos no horizonte, entre uns morros e um barulho de caminhão. Pensávamos que sería o Miguel com o Kameleiro mas o farol some. Fiquei um pouco desapontado mas ouvíamos o barulho potente de um carro. Pouco tempo depois os farois surgem novamente e vem em nossa direção. Era um caminhão de transporte de gado. Não vi nenhum dos nossos amigos e já me adiantei para pedir ajuda quando vejo o Kameleiro na parte que transportava gado. Confesso que adorei ver esse cara ali. heheheheh... Eles trouxeram um caminhão e mais duas pessoas para ajudar. Eles olharam o nosso carro e concluíram que sem ajuda não sairíamos dali mesmo. Amarram um corda no caminhão, a outra ponta em nosso carro, a corda tensionou, pensei que ela ía partir, mas acabou nos tirando de lá. Foi alegria geral, ficamos muito agradecidos, a tensão de anteriormente havia sumido completamente e na hora de "acertar" com o cara do caminhão, vi que a gente estava sendo roubado. Achei muito caro. Mas tudo bem. Vamos nessa. Entramos no carro e continuamos a viagem.
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2 -
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4 ]
ATÉ RUBIATABA
Entramos em Pirenópolis procurando um posto para calibrar os pneus, mas os postos estavam fechados. Seguimos assim mesmo até acharmos um posto.Paramos bem mais adiante, lanchamos, comi um nugget gigante que parecia a sola duma sandália havaiana com um pingado morno. Estava uma delícia. Calibramos e seguimos viagem. Chegamos à fazenda da família do Flávio Kameleiro e Franklin às 03:30 e fomos muito bem recepcionados pela tia dele. Fui preparado para dormir na grama ou em barraca quando, para minha surpresa e alegria, tinha umas camas já arrumadas e quentinha nos esperando. Tomamos um banho e nos deitamos às 04:30. Eu simplesmente apaguei. Dormi feito pedra.
EM RUBIATABA
Acordei com o mugido das vacas, canto dos passáros e galos. Estou no céu, pensei. Incrível, mas cheiro de merda de vaca naquela hora me era agradável. Uma dia ainda faço um perfume com um aroma desses. Levantamos às 09:00, tomamos um delicioso café, um leite grosso direto da fonte. Vesti e inaugurei o novo uniforme da Equipe MtBB, me olhei no espelho e disse pra mim mesmo. "Bichu bunitu". Enchemos os camels back, dei um sanduba pra cada um que tinha feito, montamos nas bikes e saímos às 10:15 em direção a Nova América. Enquanto passávamos pela cidade, viramos a atração. As pessoas nos olhavam, apontavam, as crianças acenavam com a mão. Me senti o máximo. Meu momento de glória.
A RODOVIA
Saímos da cidade e pegamos a rodovia. Os carros e os caminhões que passavam nos respeitavam mesmo. Bem diferente daqui de Brasília. A rodovia não tinha acostamento, então pedalávamos em fila indiana em cima da faixa branca. Mas quando os caminhões passavam por nós, eles íam na outra faixa como se estivessem passando um outro veículo. Alguns acenavam para nós, buzinavam, nos cumprimentavam. O sol estava forte, o dia maravilhoso e tudo cooperava para um delicioso pedal. Em nenhum momento nos passou pela cabeça que o tempo mudaria completamente, caíria uma chuva torrencial, derrubaria uma ponte e ficaríamos preso.
CÃIMBRAS
Até Nova América tinha uns 25 km. Mas era de muita subida. E eram subidas fortes. Começamos a subir num bom rítmo mas elas pareciam não acabar mais. O sol forte e o cansaço começou a nos pegar e o Kameleiro começou a sentir fortes câimbras. Queria fazer todo o percurso pedalando. Tínhamos que pedalar 55km para chegar à confluência. Nosso carro de apoio já estava em Nova América e o Kameleiro conseguir chegar quase até a cidade. Ele estava sentindo muitas cãimbras e parou. Encontramos com o Franklin, que estava no apoio, colocamos a bike do Kameleiro na S10, tiramos umas fotos na placa de Boas Vindas da cidade e seguimos eu e o Miguel no pedal, Franklin e o Kameleiro no apoio.
OLHO DE ORÓS
Apenas para confirmar qual o melhor local para pegarmos a estrada que dava em direção à confluência, pedimos informações para um morador local. Ele saiu de casa e a sua tatuagem me chamou a atenção. Um Olho de Oros. Mas era uma tatoo de chiclete. Fiquei com vontade de rir mas só agradeci a informação e saímos.
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1 -
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4 ]
SUBIDAS
O Sol começava a ser encoberto pelas nuvens, o tempo começava a esfriar e pedalávamos agora numa estrada de chão mas bastante irregular. Mais a frente uma leve garoa aliviava o calor e umas nuvens mais pesadas começavam a ser formar. Era só subida e percebi que meus treinos no Colorado tinha valido a pena. Miguel e eu subíamos num bom rítmo, conversando, olhando a paisagem e fotografando.
DOWN HILL
Como tudo que sobe, desce, começamos uma descida interminável. Miguel saiu na frente, eu ainda estava com um certo medo de cair e me machucar novamente. Mas meu ombro não estava doendo e a adrenalina começou a correr, a respiração começou a ficar mais acelarada, a boca seca e a concentração aumentar. Não via mais paisagem. Só os obstáculos na minha frente e a poeira saindo da bike do Miguel. Olhei no cateye e estava a 30 km/h.
O terreno irregular me fazia acionar os freios constatemente. Miguel começou a se distanciar e eu comecei a me sentir mais seguro. 35...40 km/h. Passava com tudo pelas costelas na estrada, a bike pulava muito, já não freiava mais. Saltava algumas valetas e a bike parecia decolar. Ía parar lá na frente. 45 km/h!!!.
Fazia as curvas fechadas, os galhos passavam zunindo no meu capacete, já estava chegando perto do Miguel. Uma curva para a esquerda, as rodas saltitavam, dava para perceber a suspenção trabalhando. Começou uma descida muito inclinada, joguei o corpo um pouco mais pra tras... 49 km/h.
Entrávamos nos mata-burros com tudo equilibrando nas toras. Passamos por um parte de pedras a toda velocidade e no susto vejo o Miguel saltando um buraco no meio do caminho. Nem deu tempo pra saltar também. Minha reação foi só jogar o corpo todo pra tras para compensar a entrada da roda dianteira no buraco. Percebi a suspenção absovendo todo o impacto e passei com tudo. Mais embaixo, umas valetas, saltei a primeira, a segunda, fizemos uma curva em alta velocidade para a direita e chegamos ao final dela. 52,5 km/h a velocidade máxima. Olhei pra tras e...
UHUUUUUUUUUUU!!!!!
Ahhhhh muleke. Aí o cara arrepia!!!
Foi demais essa down hill. Uns dos melhores que já fiz!!!
A NOSSA FRENTE
Paramos e o GPS apontava para onde estava a confluência. Era um morro alto, bem inclinado, com uma mata de cerrado muito densa, capim alto, muitos arbustos e levemente molhado. Choveu um pouquinho mas nada demais. Não em relação ao que viria. Paramos e ficamos pensando como fazer para encarar essa mata com as bikes. E o carro de apoio, onde deixá-lo. Era arriscado deixá-lo só e ficar uma pessoa tomando conta não fazia parte dos nossos planos. Ou vai todo mundo, ou não vai ninguém. Então pedalamos 5 km mais a frente conforme os planos originais de onde realmente deveríamos entrar. Para nosso surpresa, dava bem em frente a uma porteira. Era a Fazenda Ribeirão das Porteiras. Resolvemos então entrar e ir até a sede da fazenda e pedir permissão para o proprietário. Nao queríamos invadir terras de ninguém.
BUFALOS
Fomos até a sede e fomos recebido por tres cachorros latindo. Caracas, tamos no sal com esses cachorros. Mas como nós não corremos, eles ficaram meio sem saber o que fazer. Era como se um cachorro falasse para o outro. "Ué. Eles não tinham que correr? E agora, o que a gente faz?" As crianças saíram e uma senhora nos recebeu séria, um pouco curiosa em saber quem são essas pessoas com roupas apertadas e coloridas em cima de bicicletas. Nos apresentamos, nos desculpamos pela entrada na fazenda e tentamos explicar o que viemos fazer. Confluência??? Que isso?? Latitude, longitude??? Pera aí que vou chamar meu marido e vc conversa com ele. Ele estava no estábulo e veio com mais uma pessoa. Nos olhou de forma séria e curiosa. Tentamos contar pra ele, o Seu Vanderci, o que estávamos fazendo e falamos que não íamos mexer em nada, não cortar nenhum mato, ser muito breve. Só iríamos tirar umas fotos e que a nossa camionete ficaria estacionada ali mesmo. Como era só para tirar fotos mesmo, ele deixou. Só riu que não tinha nada para se fotografar ali, ainda mais que teríamos que entrar numa mata fechada. "Tudo bem. Pode ir" Interprete-se: Cada doido com sua maluquice. Começamos a olhar em volta e percebemos que era uma fazenda de búfalos. Nunca tinha visto um ao vivo. Eram enormes e muito bonitos. Eles nos olhavam de forma curiosa e nós mais ainda.
A CONFLUÊNCIA
Passamos pelo curral e começamos a subir a encosta dum morro. Era difícil a progressão. Muito mato, muitos espinhos e muitos borrachudos. Muitos mesmo. A bike se enroscava nos arbustos e era muito difícil empurrá-la. Chegamos a um riacho, levantamos as bikes e passamos por ele. Continuamos a entrar mais ainda dentro da mata fechada, os mosquitos constantemente nos picando. Passavamos pela cerca e o Franklin sempre me ajudava com a bike. Mais mato, mais borrachudo, mais cercas, mais espinhos.Cadê essa confluência, Miguel? Cadê? Estávamos muito perto. Mas era difícil de andar. Até que chegamos.
UHUUUUUUUU!
15S 50W
Em cima! Colocamos a plaquetinha de identificação, tiramos várias fotos direcinado para o Norte, Sul, Leste, Oeste. Tiramos fotos nossas lá para comprovar que o DOCERRADO, Mountain Bike Brasília e Aventura Brasília conquistaram aquela confluência.
Foi memorável. Faltava só um gatorade pra gente abrir lá e comemorar. Começou a cair uma chuvinha de leve. Nada demais. Até agradável.
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DE VOLTA A ESTRADA
Voltamos a sede da fazenda, agradecemos, a Dona Vagnar, tiramos uma foto com eles, olhamos novamente os búfalos e pegamos a estrada. Tínhamos ainda que percorrer quase 50 km para chegarmos até Rubiataba. O tempo estava muito feio. As nuvens escuras, quase pretas. O Miguel e eu pedálavamos num bom rítmo e começamos a ficar preocupado com a chuva que estava por cair. Então decidimos."Vamos usar o bom senso. Esse céu parece que vai desabar. O nosso objetivo foi alcançado, que era a confluência. Se começar a chover forte, vamos para o carro de apoio". Eu disse que tudo bem. Pouco tempo depois começou a pingar e derrepente, a água caiu. Mal deu tempo para colocarmos as bikes na pick-up.
O DILÚVIO
Começou cair uma chuva torrencial. Era muito forte. Fazia tempo que não via uma chuva daquelas. O limpador do para brisa funcionava a toda velocidade, todo mundo calado dentro do carro e o Miguel dirigindo. Muita lama, muito buraco coberto pelas águas que fazia o carro sacolejar dum lado para o outro cada vez que caíamos dentro deles. Virou uma enxurrada a estrada. O carro deslizava muito e o Miguel segurando no braço, procurando os melhores caminhos. "Meus Deus, não lembro de ter visto tanta água assim" Pensava eu. O medo de atolar era grande. Em alguns pontos a pista estava completamente tomada pela água. Agora a gente fica. Mas o Miguel era guerreiro. Passava com a S10, a água sendo espirrada para os lados como numa lancha, a rotação alta do carro, a gente percebia que estavamos derrapando, íamos para um lado o Miguel corrigia, íamos para o outro, mais correção e passávamos pelo atoleiro. A cada passagem dessa era uma alegria. E a tempestade não dava trégua. O rádio foi desligado. Parecia que estava atrapalhando e era só o silêncio dentro do carro, o barulho da chuva, o barulho do motor e o vai e vem rápido das palhetas do para brisa. Balançavamos muito por causa das valetas, dos buracos que não dava mais para ver. A água tinha tomado conta de tudo. Mas o pior ainda esta por vir.
A PONTE
Fizemos uma curva e fomos em direção a ponte. De repente o Miguel para o carro e a gente fica olhando sem acreditar. Cadê a ponte??? O rio simplemente a derrubou. Caracas??? E agora? Olhamos para o lado e parecia que dava para passar o carro ali. O rio estava rápido e cheio por causa das chuvas. E ficamos discutindo o que fazer. Voltar tudo de novo? Era muita coisa para andar e a chuva ainda estava muito forte. Até que o Kameleiro foi se aventurar e ver até onde a água estava passando. Dava na altura do meio da porta da camionete. O Kameleiro estava do outro lado do rio e eu, Miguel e Franklin decidindo o que fazer. O Miguel e Franklin achando que dava e eu não. Argumentava dizendo que o rio estava cheio, com correnteza, o carro ía boiar e ser levado. Logo mais embaixo tinha uma cachoeirinha. Meu voto era voltar. Ma o Miguel quis arriscar. "
Então Miguel, dá licença que vou descer" e desci. "
Senhor, que dê tudo certo".(orei) Vi o Miguel sério, olhando pra frente e se concentrando. Parece que o tempo parou naquele momento.
TRAVESSIA
Ele acelerou tudo, o carro saiu rabeando e entrou no rio.
SPLAAASSSSHHHHH!!!! Parecia que o rio tinha explodido.A água voou longe, o barulho alto do motor em alta rotação, o carro rabeando e a água acima do capô. Estava já no meio, ainda acelerando, o Kameleiro do outro lado e eu torcedo. SOBE, SOBE, SOBE !!!! O carro saiu do outro lado jogando lama pra todo lado, as aguas ainda não tinha voltado ao curso normal mostrando a travessia do carro e eu gritei lá do outro lado.
UUUUUUUUUUUUUUUUUUUAAAAAAAAAAA!!! UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!. Corri, atravessei o rio, cumprimeitei o Miguel e saímos todo satisfeito, cheio da moral, mais confiante em encarar essa tempestade.
ATOLEIRO
A chuva não dava trégua. Paramos no meio da estrada. Havia uma poça enorme e ficamos analisando ela qual seria a melhor opção. Pelo pasto, poderíamos atolar e carro ficar patinando em cima do mato. O Kameleiro olhou o disse: "
Da pra passar"
VUPT! Passamos com a lama sendo jogando no vidro do carro. Mais adiante um longo trecho de água cobria toda a pista. Miguel nem pensou duas vezes. Trocou as marchas, acelerou, eu me segurei no banco e tchibummmmmm. Água, lama, o carro escorregando, via a água sendo espirrada pra o lado e saímos lá do outro lado. Já estávamos ficando bom nisso. Pra deixar de boca aberta qualquer jipeiro.
PISTA
Dois senhores numa Toyota 4x4 SR5 cruzou por nós, parou o carro e disse. Por aqui não dá pra ir. O rio transbordou. E eles seguiram. Então pensamos. Eles devem saber outro caminho. Já estávamos pertinho duma cidadezinha chamada Cruzeirinho. Voltamos, seguimos eles, eles pararam e fui lá conversar com ele. "Não meu jovem. Nós voltamos porque não tem como atravessar. Só tem esse caminho mesmo. Quando o rio baixar, nós vamos pra lá novamente". Falei com a galera e resolvemos ir lá da uma olhada. Afinal, já estavamos com brevet para atravessar rio de carro. Mas quando chegamos lá a pista simplesmente acabou. Não tinha mais. Era só um rio como se nunca pista ali houvesse. E era uma correnteza forte. Então não dava mesmo.
Ficamos discutindo o que fazer. Voltar??? Eu era contra. Quase 100 km de volta??? Era melhor ficarmos lá. Qualquer coisa, dormiríamos na camionete mesmo. A chuva já tinha dada uma aliviada e era agora só uns chuviscos. Chegou uma cadelinha e ficamos olhando ela.Chegou os senhores da Toyota e depois um picapezinha pequena. Ficamos lá conversando. Colacávamos uma pedra no nível da água e observávamos quanto o rio abaixava. E estava abaixando rápido mesmo. A previsão era de duas horas até da para passar.
A CADELINHA
Todos estávamos já impacientes para passar. Um dos véis da camionete, sem nenhuma razão, pegou o facão e começou a distruir uma goiabeira. Ele só queria uma goiaba que estava fora do alcance dele. Será que esse idiota não percebe que na proxima florada essa goiabeira dará menos frutos por causa da destruição dele?? Dormi um pouco, sai do carro, ficamos conversando e vendo algumas crianças brincando do outro lado. De repente, a cadelinha entra na água. Esse véi doido correu batendo palmas e a cachorrinha pulou dentro do rio. Olha, olha! A cadelinha nadando, nadando, e chegou na correnteza. Ela foi levada e ficou presa no arame duma cerca. A água passava pela cabeça dela e ela latia muito, estava muito desesperada. Batia as patas com toda a força que tinha mas a água era implacável. Ela iria morrer afogada. Não conseguia se soltar do arame. Comecei a ficar preocupado e pensei em ir lá tentar tirar ela. Até que a correnteza a tira de lá, ela volta bravamente a nadar contra a correnteza, vai para uma árvore já que a água estava muito alta, continua nadando e a gente perde ela de vista. Puxa... a correnteza a levou. Um tempinho depois ela aparece lá do outro lado. Euforia geral, todo mundo rindo e comemorando a coragem da cadelinha. Foi muito legal esse momento. Pena não termos tirado foto.
A PASSAGEM
Quase duas horas de espera, o rio já estava na altura do joelho. Se já passamos mais alto, aqui dá pra passar. Entramos no carro e passamos sem problema.
A RECEPÇÃO
Passamos por Cruzeirinho e seguimos para Rubiataba, sempre em estrada de chão lamacenta. Chegamos à Fazenda de noite, mortos de cansados, de fome e com sede. Tinha uma comida quentinha nos esperando com um delicioso suco de jabuticaba. Tomei um demorado banho, troquei de roupa e jantamos. A comida estava maravilhosa. Que mão cheia tem a menina que trabalha lá. O suco era um nectar dos deuses. Tudo foi perfeito.
AMIZADE
Às 22:00 fui dormir, com aquela sensação agradavel de ter conseguido o objetivo, de ter superado medo, de ter me desafiado e saber que consegui mais do que tudo isso. Conquistei grandes amigos: Flávio Kameleiro, Miguel e Franklin... Meu abraço a todos vocês, Henrique Cesar.
Relato: Henrique César
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> Aventuras > 2004 > Nº06