Chapada dos Veadeiros


 Região: Cavalcante - GO
 Locais: Região do Prata
 Data: 25/02/2006



Confiança!!! Segundo o Aurélio “Segurança intima de procedimento”.
Acredito que é muito complicado confiar e acreditar em algo ou alguém e até mesmo em situações onde as coisas aparentemente estão fora de controle... Nestas horas o essencial é confiar na experiência e entregar nas mãos de Deus.
Na segunda feira de carnaval, estava guiando um grupo de sete amigos, formado por cinco homens e duas mulheres. Levei os para visitarem as cachoeiras do Rio da Prata a 63 km de Cavalcante GO.

Chegamos na primeira cachoeira por volta das 10 da manha,e depois de vários clickes fotográficos e algumas paradas para banho em outras quedas d’ água, decidimos seguir em frente, em direção as ultimas cachoeiras do rio chamada REI, que fica à 7 kilometros de onde deixamos nossos veículos. A trilha margeia o rio, por algum momento do lado esquerdo e depois do lado direito, porem sempre da para escutar o barulho das águas e ver a mata ciliar que cerca o rio.

Do grupo que eu estava guiando, quatro desses amigos, já conheciam a Cachoeira Rei e já sabiam a distancia e de como chegar no lugar, e os demais ainda não conheciam. Iniciamos a caminhada por volta das 13:30 da tarde e percorremos a trilha em aproximadamente duas horas, sendo que tivemos algumas paradas para fotografia e banho em outras piscinas naturais. Na nossa ultima parada para banho e lanche, atravessamos o rio pela primeira vez, e depois caminharíamos por mais 3,5 kilomentros para atravessá-lo novamente sendo a ultima vez até chegarmos na cachoeira. Nesta ultima vez que atravessamos notei que havia uma corda esticada no ponto onde de costume atravesso. Percebi ali que na cachoeira já havia um grupo com um guia, e para minha surpresa, havia umas 50 pessoas na cachoeira e infelizmente a grande maioria não tinha guia.
Por volta das 16:20 as pessoas foram se arrumando para irem embora pois o tempo já estava fechando, armando chuva forte para os próximos minutos. Porem nesse mesmo momento chegavam mais e mais turistas na cachoeira. Reuni o meu grupo e disse que não iria dar tempo de descer nas demais cachoeiras, porem iríamos apenas no mirante parafazer algumas fotos. Neste momento éramos as ultimas pessoas na cachoeira pois as demais estavam subindo a trilha para atravessarem o rio para iniciarem a trilha de volta. Orientei aos demais turistas que precisávamos ir embora pois falei da probabilidade do rio encher e do perigo que corríamos. Nisto esses turistas disseram que sabiam, e que iriam apenas dar um mergulho para valer a caminhada. Levei o meu grupo no mirante fizemos as fotos e estávamos nos preparando para caminharmos de volta, estava mais á frente com as duas garotas e mais um amigo. E mais atrás estavam mais quatro rapazes, no qual um dele carregava a minha corda.

Ao chegarmos no topo da cachoeira, percebemos que o rio já havia subido muito, pois a correnteza estava bem forte e as pedras por onde havíamos atravessado o rio junto com a corda do guia que estava lá, não dava para ver mais, pois já havia sido encoberto pela água. Nisto subi o rio por mais uns 80 metros e vi uma das turistas que estava em outro grupo atravessando por um lugar aparentemente mais tranqüilo. Percebi naquele momento que o rio subia muito rápido. Chamei um amigo meu Daniel que já conhecia o lugar e tinha mais experiência do que os demais, para atravessar o rio com a ponta da corda, para que pudéssemos atravessar os demais com segurança. O Daniel teve muita dificuldade de equilibrar-se na travessia sendo em alguns momentos que caiu e foi arrastado por poucos metros até chegar na outra margem. Depois disso, pensei em colocar o Wochiton na Corda para atravessá-lo, porem decidi deixá-lo comigo ali me auxiliando a colocar os demais na corda. Depois da corda esticada, coloquei o irmão do Daniel, o Leonardo para atravessar o rio, pois seria necessário mais alguém para ir puxando as pessoas do outro lado.

O Leonardo também teve muita dificuldade de atravessar o rio, pois a cada minuto o rio subia mais, e uma coisa que me assustou muito, foi perceber que o rio trazia folhas galhos e a água estava vindo bem mais suja, um sinal que provavelmente poderia vir uma tromba d’água. Neste momento tive que tomar uma decisão, baseado no comportamento dos demais do grupo em outras trilhas feitas em dias anteriores, e de que dois do grupo não nadavam muito bem. Decidi que não tentaríamos atravessar o rio, pois o risco seria maior,pois a correnteza estava forte e o rio subia muito rápido. Combinei com o Daniel e o Leonardo que já haviam atravessado a primeira etapa do rio, para eles seguirem pela trilha e nos esperar no outro ponto onde eles teriam que atravessá-lo novamente. Feito isso seguimos pelo lado direito do rio, por um lugar onde não havia trilha, até chegarmos num possível lugar seguro para fazer uma travessia. Íamos subindo e olhando vendo se encontrávamos esse ponto, porem percebi que o rio enchera de uma forma assustadora, sendo que tomei a decisão de não atravessar o rio em hipótese alguma, e seguir a recomendação do proprietário da fazenda, no que me orientou se o rio por ventura enchesse, não atravessá-lo e seguir pelo outro lado até achar a outra trilha que estaria a 4 kilometros.

Nesse momento já era 17:50 e estava chuviscando muito, trovejando e ameaçando uma tempestade forte. Subi num ponto mais alto para poder orientar-me e tomar um norte para começarmos a caminhada em direção a trilha. Como na margem direita não havia trilha, procurei um caminho mais plano e limpo. Comigo estavam Suzana, Luciana, Birapuã, Humberto e Wochiton fui na frente vendo um caminho melhor e sempre me orientando pelo rio e serras para o encontro da trilha, porem o terreno é muito acidentado e o não costume das meninas em caminhadas, dificultava o desenrolar da caminhada. Tentei durante o caminho demonstrar para o grupo que a situação estava sob controle, e que apesar de não ter uma trilha que pudéssemos caminhar, estávamos no rumo certo e mostrava para eles com referencia a serras e pontos do rio, de onde estávamos e para onde iríamos.

Em alguns momentos baixou no grupo o clima de duvida, pois alguns estavam achando que deveríamos ter atravessado o rio no primeiro momento, e que não deveríamos ter ido por um lugar onde não havia trilha, estavam com medo de chover forte, de ficar escuro de não conseguir, porem fui contendo aos poucos a ansiedade do grupo dizendo que iria estar tudo certo e que chegaríamos com segurança e que não tínhamos com o que se preocupar porque tinha que tomar uma decisão ali que não colocasse a segurança do grupo em risco, e que estava tudo sob controle para não se preocuparem que eu sabia muito bem que estava fazendo. A minha preocupação crescia cada minuto quando lembrava que o Daniel e o Leonardo estavam na trilha do outro lado do rio e que eles teriam que atravessar o rio novamente. Porem eles não estavam com corda, não estavam com suas mochilas, estavam com a roupa molhada sem comida e sem água. De certa forma o meu medo era que eles tentassem atravessar o rio naquela situação. Porem lembrei que do lado que eles estavam havia uma casinha na trilha que serveria de abrigo, e que eles não estavam sozinhos do outro lado, pois havia um grupo de aproximadamente 10 pessoas.que também não tinha conseguido atravessar o rio mais a frente pois já estava bem cheio. Quando foi por volta das 18:30 ficou tudo escuro e decidi não caminhar na frente, e sim lado a lado com o grupo pois a visibilidade estava muito baixa e temi que o grupo não conseguisse me ver e saber por onde estava abrindo o caminho. Nisto a preocupação e inquietação a raiva o medo e outros sentimentos foram tomando conta do grupo, pois para muitos ali era a primeira vez que tinham contato com um ambiente selvagem e nunca haviam passado por nenhuma experiência semelhante. Por volta das 19:20 fiquei frente a frente com o meu objetivo, onde suspeitava que estava o nosso objetivo o inicio da trilha. Porem como a visibilidade era ruim devido a escuridão, e os demais estavam cansados de caminhar no meio do mato subindo descendo e molhando.

Decidimos ali parar e esperar amanhecer para continuar a achar a trilha.Neste momento passou muita coisa pela minha cabeça, pois tinha 90% de certeza que a trilha iniciava ali, e que estávamos bem próximos. Porem mais uma vez pensando na segurança do grupo e vendo que tínhamos condições de passar a noite naquele local decidi aceitar a idéia do grupo e ficar ali naquela noite. O Lugar não era muito confortável pois era numa parte um pouco inclinada da serra. Porem nos aconchegamos, o tempo logo abriu o céu ficou estrelado, acendemos uma pequena fogueira, comemos, bebemos água e esperamos as horas passarem o dia raiar e continuarmos a volta para onde estava nossos carros. Durante a noite o frio castigou todos nós pois o fogo não havia secado nossas roupas por inteiro, alguns do grupo se abraçaram e iam se solidarizando com o calor do corpo todos juntinhos menos frio... Por volta das 06 da manha e com os primeiros raios solares , percebi que minha orientação em relação a trilha estava certa, havíamos acampado a 50 metros do inicio da trilha que nos levaria para o carro. Fiquei feliz porque passamos a noite numa boa, ninguém havia se machucado, e que estávamos indo para o carro. Porem a minha preocupação era agora com o Daniel e o Leonardo, onde eles estavam?

Será que estava tudo bem com eles? Quando chegamos no Lugar combinado, percebi que o rio havia baixado um pouco, porem a água ainda muito suja e um detalhe, Havia na margem duas motos, que era de turistas que estavam na Cachoeira. Como já era dia e a margem estava apenas com a moto, concluímos que eles haviam atravessado o rio e que estavam no veiculo nos esperando. Porem varias coisas passaram na nossa mente. Pois havia o risco também de que eles pudessem ter ficado na casinha que fica mais atrás na trilha e passado a noite lá, devido ao rio cheio. Concluímos então que eles já haviam atravessado e estavam nos esperando no veiculo. Ao chegar no veiculo e não vê-los decidimos voltar para procurá-los. Porem o Dono da fazenda nos encontrou ainda no inicio da volta e nos disse que as pessoas que estavam ilhadas conseguiram passar e foram dormir na casa dele. E que os nossos amigos, depois que atravessaram foram tentar ir atrás de nós na outra margem. Mas como estava escuro eles dormirão em uma pedra na trilha e esperaram amanhecer para buscar ajuda Graças a Deus tudo deu certo, chegamos a salvo do outro lado. O que ficou foi um grande aprendizado para cada um.
Lições de companheirismo, de solidariedade criatividade e principalmente o valor em pequenas coisas foram mostradas naquela noite debaixo daquelas estrelas. Eu agradeço a todos aqueles que confiaram no meu trabalho de guiagem e se colocaram dispostos a caminhar do meu lado para encontrarmos uma saída e solução para a surpresa da tarde que foi uma enchente. Fica provado nesta experiência que a presença de um guia, um bom equipamento e vestes de caminhada, assim como ter todo um planejamento de uma passeio, são fundamentais para que o passeio não termine em uma tragédia. Agradeço muito a Deus por nos ensinar a saber a tomar a decisão certa.

Relato: Weverson Paulino

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